SOBRE CIÊNCIA E CIENTIFICIDADE (II)
SOBRE CIÊNCIA E CIENTIFICIDADE (II):
RIGOR CIENTÍFICO E PSIQUIATRIA.
Devemos ter cuidado com os ideologismos em ciência, principalmente em psiquiatria e nas neurociências como um todo. Condição necessária para se evitar de imediato a neuromitologia e a consequente redução mecanicista do conhecimento em neurobiologia e em sua extensão multidisciplinar, pois, o conhecimento cientificamente bem orientado não admite a visão reacionária dos extremos, tanto do ponto de vista biológico quanto humanistasociológico. Uma evidência somente se consolida na sua temporalidade, a medida que sobrevive a um certo número de refutações vigorosas e metodologicamente bem fundamentadas. O extremismo ideológico sempre vem acompanhado do negacionismo em relação à outras possibilidades. Faz tempo que a ciência no seu campo de cientificidade, abandonou o certo pelo provavel, a verdade em ciência desempenha o papel de uma ideia reguladora, é uma pretensão de validade, como vimos na parte I.
Desse modo, a ciência tende a se referenciar no eixo, no caminho do meio, onde a possibilidade de uma observação é de 360° e a dos extremos no máximo de 180°. Como diz Popper, a beleza e o triunfo da ciência, está na sua aproximação sucessiva da verdade, através da eliminação dos erros.
Cientificamente temos que separar em psiquiatria o que é doença do que é alteração comportamental, disfunção adaptativa, reação ao estresse, entre outras condições. A visão extremada conduz por um lado ao neurobiocentrismo e sua prática neuropsicofarmacocêntrica, por outro lado, a negação da doença e, seu deficitário tratamento nos faz regredir a um primitivo, ineficaz e fanático idealismo sóciocêntrico.
A doença mental apresenta aspectos genômicos e neurobiofisiológicos que poderão ser agravados ou minimizados por fatores próprios da subjetividade humana, condições sociais e culturais, mas com os devidos limites estabelecidos pela disposição da carga dos gens. Daí a necessidade de entender o conhecimento científico em sua cientificidade absoluta.
É urgente na psiquiatria atual, melhorar a formação do profissional, predomina o modelo dos extremos, e portanto, um modelo de ensino com um viés ideológico, que termina distanciando o conhecimento do seu campo de cientificidade. Precisamos melhorar a capacidade de avaliação clínica e o rigor diagnóstico, bem como, melhorar e muito, a capacidade de elaborar um planejamento terapêutico neuropsicofarmacológico e, a contextualização temporal do paciente em relação à pluredimensionalidade de sua subjetividade e realidade sóciocultural.
Douglas Dogol Sucar (Presidente da ABNP)
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