Atualizado: 4 de jul. de 2021
Em função da extensa variedade humana e da circunstância do momento clínico, o entendimento sobre a melhor prática clínica, é de que ela deva ser baseada na relação direta de evidências científicas consolidadas em sua temporalidade e, conhecimento clínico com sustentação em estudos cientificamente bem orientados.
É provável que a medicina no geral, nunca possa ser exercida baseada absolutamente em evidências. Além da questão das variações em si, o momento clínico e a evolução das doenças, estão submetidos a um número muito grande de variáveis. Talvez seja certo dizer, que nunca trataremos completamente uma mesma doença da mesma maneira duas vezes por todo o seu ciclo.
Entendo como evidência científica, um conjunto de dados objetivos, decorrente de estudos que utilizam o método e a análise matemática adequada à hipótese proposta, e que corresponde aos fatos. Deve se submeter a refutações vigorosas, uma única refutação cientificamente bem orientada, é suficiente para que a teoria seja refeita. No caso de sobreviver as refutações, adquire um maior grau de validade e poder de generalização.
Em psiquiatria a situação é mais complexa, porque exige para além do ato médico padrão cientificamente orientado, a capacidade do psiquiatra para lidar com a subjetividade. Assim como a mente é a resultante da fantástica interação do cérebro com o ambiente, a subjetividade é a resultante da capacidade do indivíduo em significar e ressignificar as coisas, no processo de formação dos vários níveis de diversidade do sujeito.
A boa notícia é que diferentemente do que Sartre pensou, o homem como um eterno vir a ser:
"ele é o que não é e não é o que é, porque sempre poderá fazer uma escolha diferente"
O homem é em si, ele mesmo; apesar de ter a possibilidade quase infinita de escolher algo que o torne diferente, essa diferença que ele possa ser nunca é suficiente para torná-lo diferente de si. Desse modo, podemos dizer que o homem é o único ser em que o mesmo é diferente.
Ao final, podemos afirmar categoricamente que, apesar de todas as possibilidades e variações, o homem não consegue se libertar do que é. Ele muda de comportamento, mas não muda o que ele é.
Desse modo, hoje temos uma neurobiologia bastante avançada das doenças mentais e de alguns transtornos de personalidade, que associada ao rigor da anamnese que considera a tridimensionalidade semiológica em psiquiatria: sinais e sintomas mentais, comportamentais e físicos, têm condições de ter um maior rigor diagnóstico, com mais afirmação categórica de sua validade e ser cientificamente bem orientado. Agora podemos entender a doença na sua dimensão neurobiológica e a pessoa humana na sua dimensão existencial. Essa orientação científica nos permite livrar o paciente da dubiedade diagnóstica e principalmente, dos desvios das condutas farmacocêntricas radicais ou das intervenções psicocêntricas fanáticas.
Douglas Dogol Sucar.
